12 de jul. de 2010

Resenha: Fresno - Revanche (2010)







Artista:
Fresno
Disco: Revanche





Após uma resenha do cd solo do Lucas Silveira, me vejo praticamente obrigado a resenhar também o novo disco da Fresno, Revanche. Terminou a copa do mundo, e como planejado, foi lançado o novo cd da banda.
Sei que muitos podem implicar bastante com a Fresno pela forma como ela surgiu no mainstream nos ultimos anos, ou pela aparência, ou simplesmente pelo sucesso dos caras. Eu sou um grande fã da banda, desde a sua era mais amadora. Foi uma das poucas bandas onde pode acompanhar um crescimento continuo, uma progressão natural que deveria existir em mais bandas novas do Brasil. Passando dum hardcore basicão, com letras emotivas, até um pop rock refinado e digno de ser visto como aula para as bandas novas que pretendem se meter nesse mercado conturbado da música mainstream nacional.

Mas vamos falar de Revanche. A banda acabou de sair de um ano bastante consagrado, conquistando todos os prêmios disponíveis e desajados por qualquer artista. Reconhecimento poderia ser a palavra chave para a Fresno em 2009, mas ainda faltava algo. Respeito, seja entre a crítica, muitas vezes injusta e problemática, e respeito também entre estes que vêem o rock como uma religião e que vai contra todo e qualquer um que não siga a risca tudo o que as grandes bandas classicas fizeram.
Com o Revanche, a Fresno buscou mostrar que é realmente uma banda de rock, e que seu disco Redenção era apenas uma fase mais pop da sua carreira. Assim como outras grandes bandas já fizeram, como por exemplo o U2 com o seu disco 'Pop'.

Revanche é o quinto disco da Fresno e mostra uma banda bem mais definida que no seu trabalho anterior. O que é pra ser pesado, é pesado porque a música pede isso. Assim como é que é suave, só ficou assim porque a música cobrava isso. Temos momentos intensos em boa parte das musicas, é um disco bem mais denso, e talvez mais dificil para os fãs que só conheceram a banda nos seus tempos de Redenção.
O disco possui 13 faixas inéditas e bem variadas, seja no estilo, peso, tema, timbres. Segue a resenha faixa-a-faixa abaixo.


01- Revanche: A faixa título do cd já abre mostrando que a banda que vocês conheceram em 2008 não é mais tão inofensiva assim. Um riff cortante, com timbres fortes, firmes e agudos abre a música que é uma melhores do disco. Um refrão que grita com urgência tudo o que parecia estar preso na garganta do Lucas por anos. Também temos uns teclados bem diferentes que remetem a uma sonoridade mais próxima ao Muse. Os fãs já conheciam essa faixa pois a banda já vinha executando ela ao vivo nos shows, preparando terreno para a chegada do disco, mas ouvindo a versão de estudio não deixa de ser algo surpreendentemente novo. Para os mais céticos, só essa faixa já bastaria pra mostrar o quanto a banda é e pode ser. O que vocês conheciam era apenas mais um passo nessa constante evolução e amadurecimento.


02- Deixa o Tempo: Logo após todo o peso e caos da faixa título, o disco passa para a eleita como primeiro single do disco. "Deixa o tempo" mostra, sem rodeios, que o Revanche é um disco variado, sem limitações. É um disco de rock, mas que também tem seus momentos mais suaves e melódicos. Tudo isso de uma forma que supera facilmente qualquer balada do Redenção. É uma música limpa, suave, com toques eletronicos e sintetizadores por todos os lados. Começa simples, lenta, e com o passar das notas, vai crescendo até explodir na sua frente com um final bastante intenso e com guitarras bem presentes.


03- Esteja Aqui: Algo legal desse disco, é que finalmente temos musicas da Fresno em que tu pode ligar numa festa sem medo de deixar ninguem se sentindo pra baixo ou incomodado. "Esteja aqui" é talvez a música pop mais 'feliz' do Revanche. Chega criando um clima bem interessante pra abrir o disco depois de tanta intensidade. É uma faixa mais solta, pop sem ter vergonha, um pop bem feito e sem gosto de plastico. Uma aula para todas as bandas que se dizem felizes. Mesmo com o ar pop, esta faixa possui mais guitarras que muitas do Redenção, como "Uma música" e "Desde quando você se foi" por exemplo.


04- Die Lüge: Aqui voltamos para o rock. Outra faixa incrivelmente pesada e intensa. Começa com um ar estranho, diferente de qualquer outra música da Fresno já feita. Notas abafadas, bateria criando um clima de que algo muito forte está por vir. Derepente as guitarras explodem e o peso ecoa. A letra da música faz jus a todo esse peso, amaldiçoando bastante uma pessoa que parece ter mentido muito. Apesar desse clima de revolta, "Die lüge" é uma faixa extremamente animada, beirando ao metal em certas partes. Sei como pode soar absurdo dizer isso, mas acredite. No refrão nota-se uma pegada bem proxima ao do Anberlin, com guitarras fortes e coros no fundo, ouçam "Godspeed". Uma das melhores entre as pesadas do Revanche.


05- Nesse Lugar: Uma música que foi colocada no disco de ultima hora. Uma das mais antigas do cd também. Essa vem numa pegada pop mais no estilo da própria Fresno, quem gostava das musicas mais lentas do Redenção, provavelmente vai amar essa. Bem balada, com arranjos bonitos e grandiosos, uma letra muito romantica. Seria equivalente a "Goodbye" do album antigo, só que extremamente mais bonita.


06- Eu Sei: No Revanche você pode fazer 2 rankings, o de música pesada, mais extremamente pesada, e o de música bonita, mais extramente linda. "Eu sei" ganha fácil no ranking das mais lindas ao meu ver, é uma das músicas com o refrão mais intenso do disco. Ela vem no mesmo estilo da "Deixa o tempo", versos limpos e refrão cheio de guitarras. A diferença fica na intensidade, ela já começa grande e depois fica maior ainda, terminando no climax da intensidade no refrão final, com várias camadas de vozes gritando o que deve ser gritado da maneira mais certa possível. Tem um Q de Anberlin nesta faixa também, acho, talvez pela bateria.


07- Relato de um Homem de Bom Coração: A palavra que pode definir bem o Revanche é 'intensidade', e essa pode ser talvez a mais intensa, densa, sombria e enfurecida música do disco. Com todos esses adjetivos, ela só poderia ser carregada de peso e guitarras que gritam tanto quanto Lucas e Tavares, que se revezam entre um verso e outro. Todos contando verdades vividas, palavras que mostram o lado não tão bom assim de ser alguém mais exposto, conhecido e muitas vezes invejado. A banda está usando muito bem vários elementos eletronicos, que casam perfeitamente nas faixas mais pesadas. Todas as letras carregam um ar de maturidade, essa é a diferença mais gritante até do que as guitarras. Logo após ouvir essa música, a única faixa que consegui pensar ao querer comparar com algo, foi a "Cada poça dessa rua tem um pouco de minhas lagrimas" do cd Ciano. Uma música bastante sombria que grita e amaldiçoa a tudo e a todos de uma forma que só a Fresno sabe fazer. Talvez a Melhor do Revanche dentre as pesadas e também no geral.


08- Quando Crescer: Uma das primeiras musicas que a banda mostrou ao vivo, meses antes de gravar o disco. É mais uma balada que serve pra te confortar depois de toda a angustia da faixa anterior. Apesar de ser uma balada, é uma música séria e firme. Delicada sem soar boba. Nesta faixa o piano dá as regras e logo depois a banda acompanha. Uma faixa para mostrar também o quanto Lucas melhorou como compositor, cantor e instrumentista. Por muitas vezes ele não se sentiu apto a gravar os pianos nos cds antigos e convidou profissionais, pois apenas um pianista de verdade consegue por sentimento no que toca. Mas dessa vez é ele quem toca todos os pianos do disco, tudo numa maestria que só ouvindo pra acreditar.


09- Se você Voltar: Continuando a seleção de faixas pra se tocar em festa, esta é a melhor. Sempre imaginei como seria ver a Fresno fazendo uma música nesse estilo, com mais groove e mais dançante. É sem dúvidas uma das mais diferentes dentro da carreira da banda. Com forte influencia de Maroon 5, é uma faixa animada e pesada. Tem um andamento digno de festa, é um provavel hit em shows e um belo cartão de visita pra quem não gosta tanto desse rock mais atual que se vê no Brasil. É uma das minhas favoritas por ter uma variedade maior que em outras faixas. Temos as melhores linhas de baixo, o peso firme nos refrões, umas guitarras mais funk nos versos e solos, muitos solos. Tudo isso embalado numa melodia muito boa e uma letra levemente sacana.


10- A Minha História Não Acaba Aqui: Lucas cita Muse em tudo quanto é lugar, mas era dificil ver tal influencia nos cds antigos da Fresno. Mas agora isso é passado. "AMHNAA" é certamente a faixa mais Muse do Revanche, não o atual e mais cheio dos teclados, mas sim o velho e bom Muse barulhento com guitarras que deixariam muitas bandas que se dizem 'pesadas' na saudade. Uma música que lembra bastante Muse sim, seja nas guitarras junto de sintetizadores, ou nos coros assombrando o refrão final da faixa, mas sem se transformar num clone, você reconhece o traço da Fresno ali. Souberam muito bem capturar essa influencia, que se torna reconhecivel sem se tornar exatamente igual. É também, infelizmente, a ultima música realmente pesada do Revanche. Possui mais letras raivosas retratando um pouco como é ser julgado e rotulado por ser bem sucedido. Provavelmente nenhuma das faixas pesadas do Revanche pode entrar na categoria 'mediana' ou 'ruim', são todas ótimas cada uma a sua maneira.


11- Não leve a Mal: Daqui pra frente seguimos rumo ao final do disco, que talvez sirva para confortar uma parcela de fãs que não conseguiram digerir bem todo o peso do Revanche. 'Não leve a mal' é a balada mais triste do cd. A melodia pede isso, a letra pede isso e os arranjos escolhidos foram ótimos. Uma faixa praticamente acustica, sem cair de cabeça no pop radiofonico, como foi na versão Redenção da "Alguem que te faz sorrir". É impossivel não se render ao clima de tristeza e perda dessa música, vai agradar muito aos fãs mais antigos que sempre clamavam por uma faixa mais triste, ao estilo da classica 'Stonehenge'. Apesar de não ter guitarras, ela te convence como mais uma boa canção firme, séria e antes de tudo honesta.


12- Porto Alegre: Talvez seja mais um pedaço perdido do disco Redenção. Não no sentido de música, mas no sentido de letra. Como se essa música continuasse o que foi contado em Redenção. É uma faixa que mais uma vez começa pequena, intima e depois cresce até o seu apice. Tem um ar de nostalgia, de alguém que cai em lembranças já superadas e parcialmente esquecidas. Perto do fim entram as guitarras. Sempre na medida certa, estão ali não pra deixar a música mais pesada, mas sim para torna-la cada vez mais intensa conforme progride. No Ranking das músicas bonitas, essa só perde para a faixa "Eu sei", pelo menos para mim.


13- Canção da Noite (Todo Mundo Precisa de Alguém): No Redenção a última música era sem dúvidas a melhor do disco. "Milonga" era uma música que reunia tudo o que a banda era capaz, mas que infelizmente se restringiu a aquela única faixa. É natural esperar algo no mesmo nivel para o final do Revanche, acho que até eu esperava uma "Milonga 2". Mas não é o que acontece. "Canção da Noite" é uma faixa muito boa, mas bem diferente do que muitos podem estar esperando para um fim. É quase um Hino para todos os que sofrem, já sofreram ou ainda vão sofrer. A mensagem é clara, "todo mundo precisa de alguém". Depois de tanta fúria, tanta intensidade, desespero e angústia foi uma decisão sábia terminar o disco com uma música mais positiva e que te faz se sentir mais tranquilo.

Falando da música, ela é a maior do disco, e assim como muitas outras vai progredindo, se construindo conforme passa. Cada vez agregando mais instrumentos e intensidade. Temos praticamente tudo o que foi visto durante o Revanche, pianos, coros, guitarras bem comportadas mas que estão lá, melodias bonitas e sinceras e uma das letras mais esperançosas do disco. É certo que essa música vai fechar os futuros shows da Fresno. Não é tão difícil imaginar todo mundo cantando o refrão num grande coro gritando o que não é segredo pra ninguém, mas que muitas vezes não sai espontaneamente. E é isso, uma bela faixa que fecha o disco de uma forma diferente. Porque um "Milonga 2" se você pode ter algo totalmente novo?
Ambas são boas músicas e cada uma tem o seu valor, um ótimo jeito de fechar o Revanche.


Resumindo, Revanche é o melhor disco da Fresno já lançado. Vai mudar a opnião de muitos que cobravam uma postura rock justo na fase mais pop da banda. Agora ninguém mais vai ter do que reclamar, tanto quem queria mais peso, quanto quem não queria que a banda se perdesse nesse mundo onde parece existir uma competição de quem é o mais barulhento e pesado. É um disco muito coeso, bem mais definido. Tem de tudo um pouco e muito , mas muito peso. Orgulho pros fãs e orgulho pra mim também.
Sei que essa é uma resenha de fã, mas mesmo sendo fã eu não me sentia 100% confortavel na era 'Redenção', mesmo assim nunca abandonei a banda e respeitei essa fase mais pop que eles resolveram assumir. Eu fico tranquilo quanto a mudanças, porque felizmente a Fresno é uma banda que nunca vai continuar de onde parou no disco anterior, mal posso esperar o que pode vir após o Revanche. Só o tempo dirá, mas eu aposto que não vão me decepcionar.

8 comentários:

luucaschina disse...

Muito bom, brother... parabéns! Acho que concordo com tudo que tu disse, inclusive os gostos.

Addio, mani fredde! disse...

Parabéns man! Ótima resenha.

Anônimo disse...

PARABENS pela resenha! excelente

Everton Senna disse...

Cara, você me deixou morrendo de vontade de ouvir esse álbum. Maldita correria do dia a dia que me impede. Assim que ouvir, também postarei resenha.

Abraços

Guilherme disse...

muito boa a resenha... a respeito dessa ultima musica é nitida a semelhança com Radio Gaga do Queen, até num making of q vi do revanche, o lucas mostra o nome provisorio das musicas, e ta escrito radio gaga.

Bruno disse...

é de longe o melhor cd produzido por eles.
A evolução na qualidade das letras,som é algo que me deixa bastante contente.
Fiquei decepcionado com o último CD,onde não indicaria pra ninguém.
Bom ver que eles lembraram que podiam usar as guitarras e apostaram em riffs grudentos que com certeza vai mudar o modo que as pessoas olharão para a banda.
Infelizmente a banda já foi rotulada e por ter feito um disco muito pop no Redenção,afastou ainda mais ,quem procurava ouvir um bom rock.
Indico esse cd sem me preocupar.
Let's Rock!

VOX disse...

"Eu sei... Eu preciso, você também, todo mundo precisa de alguém. Então, deixa que o tempo vai..." Acompanho a Fresno desde O Acado do Erro. Posso dizer que não acho Redenção um álbum ruim ou decepcionante. Identifiquei-me com a maioria das músicas contidas nele. Gostei mto da elaboração do disco novo, tanto as letras como as melodias, porém me identifiquei mais com três, quatro músicas apenas. O restante das músicas... O resto eu achei, sinceramente, uma DESGRAÇA PELADA!!!

Anônimo disse...

Cara. Não gostei muito da resenha. Faltou imparcialidade de estilo. Eu sei que Fresno é uma banda praticamente de POP, mas dizer que certas "faixas são incrivelmente pesadas" é meio que exagero e tals.

Na minha humilde opinião, a verdade é que esse cd continua deprê e pop como todos os cds do fresno. O que muda um pouco é um pouco mais de "pesinho" nas músicas, mas nada que fuja do que eu vi até hoj de Fresno.